O lugar do morto

Sempre que me desloco neste lugar, normalmente vou falante (raras as vezes vou calada) e atenta ao trânsito, afinal vou no lugar do morto.
Nessa circunstância, não consigo evitar o usual : “tens ali um lugar” ou (não tanto usual) “cuidado, vem aí um carro” …Quem não diz?
Se a condutora é feminina, acata de bom agrado a sugestão/alerta ; o caso muda de figura se o condutor é macho.
O que é fantástico é que o meu marido goza de um privilégio exclusivo: arranja sempre lugar no local mais perto do sítio onde quer ir, chega ao ponto de arranjar lugar à porta, por exemplo, do parque subterrâneo do centro comercial num dia de chuva intensa….
É simplesmente fantástico, mesmo assim, não consigo deixar de dizer (sabendo de antemão que ele já o tinha visto): tens aqui um lugar!
É mais forte do que eu!
Talvez tenha a ver com a natureza da mulher: não quer deixar de dar uma palavra sobre o assunto…